Convidamos o Dr. Igor Luchini Baptista, que é Professor da Faculdade de Ciências Aplicadas - UNICAMP, para uma entrevista sobre o Tight Lacing e seus efeitos, inaugurando uma nova categoria de posts sobre o tema em nosso Blog, com imenso prestígio.

A abordagem se desenvolve em torno do curioso artigo científico “Body girdle reduced fat deposition and altered other body parameters in rats” de autoria de pesquisadores chineses. Trata-se de um estudo realizado com a finalidade de observar os efeitos de uma “cinta” em ratos de laboratório, relacionando a sua dieta com a formação do tecido adiposo.

Para nós o Tight lacing é assunto sério, e deve ser abordado sempre com responsabilidade. Acreditamos que criar uma base referencial segura para nossas clientes e demais interessados na área é fundamental.

Pensando nisso, convidamos o ilustre Professor Doutor Igor Luchini Baptista, para falar sobre o tema.
Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e Doutor em Ciências (Biologia Celular e Tecidual) pela Universidade de São Paulo, possui pós-doutorado na Universidade da California, San Diego e Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Morfologia e Histologia, com ênfase em biologia celular e molecular do músculo esquelético.

Confira a entrevista a seguir:

Blog Rose Sathler - Por qual motivo se posicionar cientificamente a respeito do Tight lacing é uma tarefa tão complexa?
Prof. Dr. Igor Luchini Baptista - A dificuldade de se posicionar a respeito do Tight lacing vem do fato da pouca literatura científica a respeito, seja em modelos animais, seja em seres humanos. Também decorre do fato de ainda ser considerado uma questão estética e pouco relacionada à questões médicas. Vale ressaltar que mesmo coletes ortopédicos (pós-cirúrgicos, por exemplo), que poderiam apresentar respostas corporais similares, possuem pouca literatura disponível.

Sobre o artigo “Body girdle reduced fat deposition and altered other body parameters in rats”. Qual foi o objetivo da pesquisa? Quais foram os procedimentos e os resultados obtidos?
O objetivo principal deste estudo foi comparar o efeito do uso de uma cinta (imitando o uso de aparatos similares ao corset) na região abdominal de ratos submetidos à dieta hipercalórica (alto percentual de gordura) comparado à dieta regular. Os principais achados deste estudo apontam para mudança de comportamento de ratos submetidos ao uso da cinta, além de alterações na composição corporal e no metabolismo de lipídeos. Curiosamente, o uso da cinta retardou o aumento no tecido adiposo e seus efeitos negativos e reduziu os danos hepáticos causados pela dieta hiperlipídica.

Quando pensamos na aplicabilidade dos mesmos conceitos em humanos, quais seriam as principais diferenças e ressalvas observadas?
A grande dificuldade da aplicação destes conceitos para o ser humano se deve à diferença postural dos animais e humanos. No caso dos animais, tanto a musculatura dorsal quanto abdominal possuem pouca influência sobre a postura (quatro apoios) para atividades diárias (alimentar-se, ingestão de água, andar, etc). No caso dos humanos, a musculatura dorsal e abdominal é crucial para a manutenção da postura (bípede) e, desta forma, deveriam ser analisadas em caso de uso contínuo do corset. Quanto aos resultados obtidos, como todo estudo em modelo animal, este também necessita de mais esclarecimentos, se possível utilizando seres humanos devido às diferenças biomecânicas importantes relacionadas a postura.

Analisando esses pontos, na sua opinião, seria possível elencar alguns prováveis impactos do uso do corset no corpo humano?
No estudo apontado, apesar dos resultados interessantes e consistentes, alguns aspectos importantes não foram analisados. O primeiro deles, sem dúvida, diz respeito à postura ereta do ser humano, como colocado anteriormente. O impacto do uso frequente (acima de 8-10 horas) por dia, pode levar, a longo prazo, a redução da massa muscular local. Além disso, parâmetros como fluxo intestinal e retorno venoso poderiam ser influenciados devido à pressão na cavidade abdominal. Acredito que o uso frequente deste tipo de peça, deveria ser acompanhado de exercício físico regular, evitando perda de massa muscular, por exemplo. E em caso de dúvidas, o aconselhamento médico é sempre o mais indicado e seguro para o usuário.